Neste Dia dos Professores, gostaria de trazer uma reflexão…

Ser educador é, acima de tudo, exercer uma influência que ultrapassa o tempo e o espaço. É afetar um universo inteiro

Você poderia me perguntar: “Afetar um universo inteiro?”.
E eu lhe responderia: “Sim, um universo inteiro”.

Ao longo da história, tivemos grandes pensadores — e, portanto, grandes educadores — que moldaram o modo como produzimos conhecimento até hoje. Sócrates, Aristóteles, Comenius, Santo Agostinho, Leonardo da Vinci, Dewey. De alguma forma, eles nos inspiram por meio de suas ideias, experimentos, ensaios e discussões.

Esse emaranhado de vozes e saberes eleva o nível do nosso discurso acadêmico, especialmente quando nos deparamos com a pergunta que ecoa nas universidades: “Qual a racional que explica sua prática?”.

Na contemporaneidade dos tempos, vivemos uma crise de pensamento nas instituições de ensino, principalmente as de nível superior. E aqui, tomo a liberdade de tomar como referência as palavras do ex-reitor da Universidade de São Paulo, Jacques Marcovitch, que disse algo bem instigante em um dos seus ensaios no finalzinho da década de 1980: “A universidade tem ainda o papel de formar a cidadania. Cabe-lhe, e talvez seja essa a sua principal função, desenvolver a inquietude do ser social”.

Se a liberdade de ideias, o debate e a formação social são a base do pensamento acadêmico, por que enfrentamos essa crise? Por que temos profissionais malformados, alunos que não sabem pesquisar, refletir, ou pensar criticamente?

Ainda hoje, escuto nos corredores um velho jargão: “Quem faz a faculdade é o aluno”. E é justamente daí que parte o ponto mais alto dessa reflexão. Cursar uma graduação é o sonho de milhões de jovens brasileiros. Termos como empregabilidade, especialização, globalização e competitividade aparecem constantemente nessa busca por um lugar ao sol. Nessa jornada, o aluno é, sim, protagonista.

Mas quando observamos o cenário de ingresso — repleto de incertezas e sem experiência — percebemos que ainda não há maturidade suficiente para conduzir sozinho esse processo. É aí que o educador se torna essencial. Ser educador não é apenas uma profissão, é uma missão.

E onde ficam o debate, a formação cultural e os valores do pensamento universitário? O verdadeiro educador vai além da técnica e da experiência. Ele desperta em seus alunos o desejo pela reflexão crítica.

Ser educador é ser criativo, provocar a curiosidade, incentivar a pesquisa, comunicar-se com empatia e transformar o ensino em algo vivo e investigativo. É ser a mola propulsora que movimenta o desenvolvimento do aluno dentro da universidade.

De certo, a tecnologia é uma poderosa aliada. Com um simples celular, o professor pode esclarecer dúvidas em tempo real — algo inimaginável há 25, 30 anos. Mas será isso o suficiente para restaurar a consciência crítica perdida ao longo dos anos?

Frequentemente, ouvimos alunos dizendo: “Quero aprender na prática” ou “Estou aqui só por causa do diploma”. Se o ensino se resume a isso, qual é, então, o sentido do ensino superior?

A resposta é simples, mas exige esforço: o educador precisa resgatar o valor do pensar. Precisa questionar-se “Qual a racional que explica minha prática?” e, a partir disso, mostrar que a construção do conhecimento vai além da execução de tarefas.

O caminho passa pela multidisciplinaridade, pelo autodidatismo, pelo uso consciente das tecnologias, pela leitura, pela pesquisa e pelo hábito — quase esquecido — de frequentar bibliotecas.

Mais importante do que as habilidades técnicas são as reflexões que mergulham o aluno em um oceano de possibilidades, que o convidam a pensar, a investigar e a construir sentido para a própria trajetória acadêmica, profissional e pessoal.

Ser educador é difícil. É desafiador. Mas é profundamente gratificante.
Especialmente quando a profissão se transforma em missão.

Feliz Dia dos Professores!

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”
Cora Coralina

Prof. Ms. Rafael Coelho, mestre em Educação Profissional e coordenador do Curso de Tecnologia em Gestão Hospitalar do IESAPM

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